Com a correria do dia a dia e falta de tempo para aproveitar as pequenas tarefas em família, acabamos por sermos nós (adultos) a fazer algumas tarefas rotineiras que, do ponto de vista Montessori, são do interesse e motivação da criança. Um exemplo: o vestir.

Quer tenhamos uma criança com 2, 4 ou 6 anos, segundo Montessori, a tarefa de se vestirem sozinhos ajuda-os a criar maior percepção do seu corpo, fortalecendo simulaneamente o desenvolvimento da motricidade bruta e fina e reforçando as suas competências a nível espacial. Permitir que a criança se vista autonomamente ensina-lhes também habilidades da vida, em geral, ao mesmo tempo que experimentam sensações de calma, concentração, cooperação, auto-disciplina e auto-confiança. Dominar uma tarefa como calçar uns sapatos, pode levar a um enorme sentimento de realização e satisfação pessoal.

Segundo Maria Montessori, se a criança sente que é capaz de fazer uma tarefa sozinha, nunca a devemos ajudar nem interromper. Nós pais sabemos que esta ideia pode ser difícil de colocar em prática, no nosso dia a dia, mas a verdade é que permitir que as nossas crianças que se vistam (ou tentem o máximo possível fazê-lo, sem pressões nem ritmos impostos) transmite-lhes uma mensagem para a vida: queremos crianças fortes e capazes.

Sendo assim, precisamos capacitá-los, dar-lhes o tempo e o contexto necessários para que, com confiança, se tornar membros activos da família. O que devemos então proporcionar às nossas crianças?

Oferecer escolhas limitadas de peças de roupa. Porque existem tantos estilos de roupa e tantas peças variadas deveremos, sempre que possível, adequar as peças disponíveis à estação do ano e ao evento (seja uma festa, para ir para escola ou simplemente para ficar em casa). Ao limitar o número de peças devemos ter em conta também que sejam versáteis e que conjuguem entre si, para que não haja, mais tarde, correcção por parte do adulto.

Adequar a complexidade da roupa ao desenvolvimento de cada criança: devemos ter em conta a sua fase de desenvolvimento e de coordenação motora, para a escolha da roupa, tentando sempre dar prioridade ao velcro e aos elásticos, numa primeira fase de desenvolvimento, e aos fechos e botões mais pequenos em idades mais avançadas.

Ambiente preparado: tal como em ambiente escolar, também em casa devemos ter um ambiente pensado para a criança e para a sua capacidade de cuidar de si. Cá em casa, por exemplo, temos um espaço no quarto com uma cadeira para que se sentem enquanto se vestem e um cesto para que cada um deles coloque a sua roupa suja. 

Permitir que se vistam ao seu ritmo e sem pressões: sempre que possível, devemos dar o espaço e o tempo necessários à experimentação. No início, irão certamente precisar de mais ajuda em alguns movimentos específicos mas há medida que se vão aperfeiçoando, a dependência do adulto será cada vez menor. Caso haja mais do que uma criança, como é o caso cá em casa, uma boa hipótese será potenciar que o mais velho ajude e dê algumas dicas, ao mesmo tempo que ajuda a fortalecer a sua relação de irmãos.

Cremos que, desta forma, estaremos a passar a mensagem às nossas crianças que acreditamos nas suas capacidades, confiamos nas suas escolhas (orientadas) e responsabilizamo-los com liberdade. À medida que estas tarefas se tornam rotinas diárias em família, iremos construir adultos mais activos, capazes e conscientes em comunidade.

Rosana Fernandes