Na realidade a estrutura é bastante livre. A criança chega e trabalha durante 3 horas num ambiente preparado (2 horas para os mais pequenos) que pode ser interior ou exterior (a criança decide!). Algumas vão para casa, outras ficam para almoçar. Brincam um bocado ou vão dormir. Preparam-se para uma atividade mais orientada, terminando assim o dia.
É a criança que decide que tipo de trabalho quer fazer, quando quer ir à casa de banho, quando está com fome e está na altura de petiscar qualquer coisa, quando precisa de ir lá fora correr e esticar as pernas ou ainda quando lhe apetece puxar do pincel e expressar-se através da pintura. Fazem-no quando querem, quando escolhem ou quando precisam.
Não é por acaso que Montessori é visto como uma educação para vida. É uma forma de estar e de olhar para a criança como um todo. Quando não nos é dito o que fazer nem quando o fazer, somos nós que decidimos como queremos empregar o nosso tempo, aprendemos a priorizar e ganhamos liberdade, autonomia e disciplina.
Claro que a criança não faz tudo o que lhe apetece. Esse é um dos grandes mal-entendidos da pedagogia Montessori. Mas sim, as crianças podem trabalhar com os materiais que elegeram (desde que já lhes tenha sido apresentado) pelo período de tempo que quiserem. Depois devem retornar o material à prateleira e deixar tudo conforme encontraram para que a pessoa seguinte possa usar. As crianças têm um sentido muito próprio de justiça e percebem que para que um determinado ambiente funcione, todos têm de estar em sintonia.
Pode parecer surpreendente, mas também existe liberdade para que a criança escolha não trabalhar. Todos temos períodos em que precisamos de parar um pouco para pensar no que vamos fazer a seguir. É importante existir espaço para que a criança se possa sentar e observar. Mesmo quando não é ela que está a manipular diretamente o material, percebemos que a criança continua a aprender. Confiamos na criança e na sua capacidade de decisão. Aos adultos cabe a função de assegurar que existem atividades que provocam o interesse e o entusiasmo da criança e quando isso não acontece, é necessário perceber o porquê. Sabemos, no entanto, que uma aprendizagem positiva acontece quando existe liberdade de escolha e as atividades são autodirigidas.
Esta abordagem promove a independência e dá-nos competências para a vida. Ter iniciativa, saber priorizar, resolver problemas são tudo competências que temos de levar connosco para a vida. Não queremos crianças (e, posteriormente, adultos) apáticas, queremos crianças que saibam escolher, que possam errar e aprender com o erro de uma forma tão natural como a própria vida. A nossa missão não é dizer-lhes o que fazer, é ajudá-los a descobrir o querem fazer sozinhas.
Joana Magalhães