Temos feito muitas sessões de esclarecimento antes da abertura da nossa escola e é com grande entusiasmo que partilhamos a nossa visão e os nossos valores. Na última sessão que fizemos alguém nos questionava qual a visão a curto e a longo prazo da Escola Montessori do Porto. Sendo assim, achei que faria sentido partilhar aqui também o que respondemos na altura 🙂

A nossa visão a 5 anos é certamente abrir primária e dar oportunidade às crianças que entrarem agora (com 3 anos) continuarem no primeiro ano de primária Montessori. Em tempos escrevi sobre este assunto noutro post, se tiverem interesse podem ver o enquadramento deste curriculum à luz de Montessori aqui.

Agora, relativamente à visão da Escola em 10 anos, essa contempla também o continuar do projecto, acompanhando a idade das mesmas crianças que, por essa altura, terão cerca de 13 anos e ingressarão no ensino secundário. Existem claramente duas grandes mudanças nesta fase: as crianças passarão a ser adolescentes e o seu contributo será já directamente para a sociedade.

Quando falamos em adolescentes falamos necessariamente em mudanças físicas e psicológicas e sabemos que é uma fase que envolve vários desafios sociais, pessoais e de afirmação do papel individual na sociedade onde se inserem. A pergunta que mais habitualmente fazemos quando estudamos esta faixa etária é:

E para eles, qual será então o ambiente Montessori?

Uma quinta! Sim, uma quinta com todos os pormenores que ela tem! Porquê? Porque se crê que uma quinta tem todos os componentes que lhes permite continuar a evoluir em termos de conhecimento mas também que possam ter a possibilidade de aplicar muitos dos conhecimentos já adquiridos até então.

Quando assisti ao Curso de Assistente Montessori 3 – 6, no Porto em 2017, com a Guadalupe Barbolla, ela trouxe vários exemplos de como esta realidade existe no México e como ela própria gere uma escola Montessori dos 0 aos 18 anos. Necessariamente, segunda ela, a certa altura um projecto Montessori terá de incluir uma quinta onde as crianças não só possam aprender artes manuais, como o artesano ou a carpintaria, como também ajudam a cuidar de toda a quinta, incluindo os animais ou os alimentos que vão dar origem às suas refeições. Isto permite que possam ter a visão completa do ciclo da vida, percebam o contexto laboral que envolve ter uma quinta, mas também que possam contribuir activamente para que as suas actividades manuais possam gerar valor para a sua escola (o que incluir a aplicação prática também por exemplo de conhecimentos matemáticos/financeiros).

Desta forma, aprendem ferramentas para a sua vida em contexto prático, como de resto é a linha de aprendizagem Montessori.

Resta dizer que a maioria dos projectos existentes, tal como da Guadallupe, os adolescentes não estão o tempo todo na quinta (de segunda a sexta-feira). Vão apenas alguns dias da semana para este ambiente, o que faz com que todo o restante tempo passado em ambiente escolar, seja feito com a aplicação de metodologia de projecto a vários temas incluidos habitualmente no curriculum tradicional, como por exemplo química ou história. A ideia é aprenderem de forma participativa, com temas específicos e motivadores, envolvendo a investigação e a apresentação dos resultados encontrados aos restantes colegas.

Quando questionados sobre esta metodologia, os adolescentes descrevem-na desta forma:

“Nós começamos agora um projecto que está relacionado com o pós segunda guerra mundial. O guia apresenta um tópico e cada um escolhe o que quer investigar, por exemplo, eu escolhi o Vietnam, outros escolheram Gandhi ou Kenedy. Aprendo procurando em diferentes fontes bibliográficas e se tiver alguma dúvida peço alguma indicação ao guia. Então penso em como quero apresentá-lo, por exemplo, como um mapa conceitual. Podemos também pode criar uma linha do tempo. E se eu pensar noutra maneira de apresentá-lo, tenho liberdade para falar com o guia e ele diz sim;  eu pesquiso o que quero e apresento como gosto. É divertido e assim também aprendo “.(Fonte aqui)

Assim, crê-se que os anos em que eles crescem em ambiente Montessori desde trenra idade, a aprender com vida prática como limpar o chão ou as matemáticas concretas em ambiente 3 – 6, ajudou a que estas crianças, hoje adolescentes, fossem adquirindo habilidades, conhecimentos e capacidades que permitiram desenvolver a sua autonomia e o seu saber-fazer para que em ambiente Montessori secundária já pudessem contribuir para a sua sociedade (neste caso, a sua escola) como seres activos, participando directamente no crescimento e evolução do seu projecto educativo.

Em último caso,  esta também é a nossa missão: contribuir para a educação das nossas crianças de hoje para que elas possam melhorar a sociedade de amanhã 🙂

Rosana Fernandes